Aluízio Alves era um político de rara percepção de seus espaços. Matreiro, só ousava na certa. Escutava o chão. Costumava ousar sempre, como fez, no Rio Grande do Norte, mesmo com o Estado dividido após décadas de rivalidade com seu arqui-adversário Dinarte Mariz.
Um dia, ao chegar ao Ministério da Administração, de que foi titular no Governo Sarney, Aluízio ligou para um jornalista político de um jornal de Brasilia:
– “Já está na hora de fazer as pazes com o Dinarte.Peço-lhe escrever um artigo na linha “Apertando as Mãos”, antecipando minha intenção.Depois disso vou a Natal apertar as mãos do velho Dinarte e selar a paz. ” Dito e feito.
Sabia escolher a hora para tudo.O único político, ao que se soube,que o enganou em alguma coisa, foi Tancredo Neves. Na escolha de seu ministério, o presidente cogitava muitos nomes para cada uma das vagas. Lançava sinais a todos os grupos. Pegava quem melhor decifrava as intenções do astuto mineiro.
Tancredo chamou Aluízio a seu escritório na Fundação Getúlio Vargas,em Brasilia. Falou, disfarçou, fez longos silêncios, mas no final apanhou umas pastas que estavam na sua escrivaninha e deu a Aluízio. Eram estudos sobre a situação das estradas, portos e ferrovias,como sempre, péssima.
– “Vá estudando tudo sobre o setor de Transportes. O setor está desgovernado”.
O ex-governador, ante os sinais de que seria o futuro ministro dos Transportes, recheado de verbas e poder políticos, nem estudou os conteúdos. Sabia fazer o dever de casa de cor e salteado, como ex-governador considerado no Rio Grande do Norte o melhor até hoje.Apenas comunicou a alguns amigos mais íntimos que uma grande missão o aguardava no governo da Nova República.
Ao final, na madrugada do anúncio do ministério em entrevista coletiva, Aluizio recebeu um telefonema de Tancredo:
– “Aluzio, tenho importantíssima missão para você. Ser o primeiro ministro do Ministério da Administração que acabei de criar.”
Entre o sonho de ser o titular de uma mega-pasta e o desafio de resolver os problemas da burocracia do governo, Aluizio agradeceu, acatou, aceitou, inovou e foi excelente ministro.