De O Globo
Por Martha Beck
“O vazamento de uma das propostas de reforma da Previdência em estudo no governo mostrou que a ambição da equipe econômica é maior do que a do Palácio do Planalto no tema. O texto que circulou nesta segunda-feira iguala a idade mínima de aposentadoria para homens e mulheres em 65 anos. Foi o bastante para que o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se apressassem em dizer que nada está decidido e que o presidente Jair Bolsonaro ainda não viu detalhes.
Mas já adiantaram que Bolsonaro não é a favor da mesma idade para homens e mulheres. Mourão fez questão de lembrar: “Quem decide é o presidente. Ele foi eleito. Nós aqui somos só atores coadjuvantes”. Já Onyx disse que há quatro ou cinco textos alternativos e para a “sorte” do governo, o texto que “vazou” para a imprensa foi o errado. E que a versão final será “muito diferente do que está publicado no jornal”.
Nos bastidores, no entanto, a equipe econômica considerou positiva a repercussão da proposta. Embora ela não seja a versão final, foi elogiada pelo mercado financeiro e por lideranças políticas. Para os interlocutores do governo, a minuta mostrou que o governo está “caminhando na direção correta”.
Mesmo assim, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe sabem que há resistências e limitações políticas, mesmo que o presidente reeleito da Câmara, Rodrigo Maia, já tenha abraçado a reforma e se dedique a aprovar o texto na casa até maio.
Justamente por isso, um dia depois do vazamento da minuta mais dura, começaram a circular propostas alternativas que também estão sobre a mesa. Entre elas está a possibilidade de que a idade mínima seja diferente para homens (65 anos) e mulheres (63 anos). Até mesmo Guedes, que tem preferido não falar publicamente e se dedicar a articulações políticas, deu declarações nesta terça-feira para mostrar que a equipe econômica sabe das limitações políticas:
A posição do presidente Bolsonaro foi sempre que não, que as mulheres deveriam ficar com uma idade menor. Foi o que o general Mourão falou hoje: a palavra final é do presidente, que é ele quem assina a PEC.”
Tudo isso, no entanto, só será visto na prática quando o texto final for apresentado ao Congresso. Aí será a vez de o presidente, Guedes e Onyx mostrarem o quanto será possível “salvar” e quanto será preciso ceder.”
Foto de Jorge William, da Agência Globo